Como é que os market makers sustentam o teto de liquidez das negociações de criptomoedas? Análise da lógica de funcionamento dos criadores de mercado

A operação 24/7 do mercado de criptomoedas não seria possível sem um grupo de heróis invisíveis — os market makers (fazedores de mercado em crypto). Eles não são investidores de varejo que apostam na subida ou descida dos preços, nem influenciadores que manipulam o mercado para colher lucros, mas sim instituições que, através de algoritmos e capital, fornecem continuamente contrapartidas de compra e venda ao mercado. Sem eles, o que aconteceria? Spreads amplos, volatilidade extrema, ordens gigantes sem execução. Simplificando, os market makers ganham com a diferença entre compra e venda, mantendo o mercado saudável e funcionando.

Mas afinal, o que é exatamente o papel do market maker?

Nos exchanges, os market makers são participantes especiais. Eles não buscam lucros exorbitantes com compras baratas e vendas altas, mas sim lucram com pequenas diferenças de preço, mantendo uma presença constante de ordens de compra e venda — o que gera lucros a partir de margens mínimas em ambos os lados.

Por exemplo, com Bitcoin (BTC), o preço de mercado atual é cerca de $89.000. Um market maker pode colocar uma ordem de compra a $88.990 e uma de venda a $89.010, com uma diferença de $20, que é sua margem de lucro. Parece pouco, mas se esse tipo de operação ocorrer centenas de vezes por segundo, e milhões de transações por dia se acumularem, o ganho total é considerável.

As funções principais do market maker incluem:

• Fornecer liquidez: garantir que haja ordens disponíveis para negociação a qualquer momento
• Estabilizar preços: usar estratégias de precificação e gestão de risco para evitar oscilações extremas
• Descobrir o preço real: fazer com que o preço de mercado seja determinado pelo equilíbrio entre oferta e demanda em tempo real, e não por poucos grandes players ou manipulação

Instituições como Wintermute, GSR, Amber Group, Keyrock, DWF Labs gerenciam bilhões de dólares em capital de negociação, processando milhões de transações por dia.

Como funciona o Market Making em Crypto? Da algoritmos à prática

Market makers não simplesmente colocam ordens manualmente. A operação moderna envolve sistemas complexos e decisões automatizadas.

Hedge de risco em tempo real

Imagine que Wintermute aceita uma ordem de compra de BTC no valor de 10 milhões de dólares na exchange A. Se mantiver esses tokens, uma queda de preço pode gerar perdas. Assim, eles imediatamente vendem parte do posicionamento em outras exchanges (B, C, D), usando arbitragem inter-exchange e hedge para garantir lucros e evitar riscos. É por isso que eles têm presença em mais de 50 exchanges globais.

Algoritmos de alta frequência (HFT)

Grandes market makers usam sistemas de trading de alta frequência, capazes de:

• Monitorar em tempo real os preços de várias exchanges
• Calcular os melhores preços de compra e venda
• Ajustar automaticamente a profundidade de ordens e spreads
• Executar comandos de gestão de risco

Segundo dados da Keyrock, eles processam mais de 550.000 transações por dia, cobrindo mais de 1.300 pares de negociação e 85 exchanges. Essa escala de operação depende totalmente de sistemas automatizados.

Gestão de profundidade de liquidez

Market makers não escolhem preços aleatoriamente. Eles analisam:

• Profundidade do livro de ordens (quantidade de ordens de compra e venda acumuladas)
• Volatilidade histórica (variações de preço no passado)
• Padrões de volume ao longo do tempo (horários de maior atividade)

Para ajustar dinamicamente o spread. Em períodos de alta volatilidade, eles aumentam o spread para compensar riscos; em ativos menos líquidos, o spread também é maior.

Market Maker vs Taker: dois papéis essenciais

Iniciantes muitas vezes confundem “market maker” com “trader comum”. A diferença principal é:

Market Maker (Maker): fornece liquidez, coloca ordens limitadas, lucra com spreads

• Exemplo: coloca uma ordem de compra de BTC a $88.990 e uma de venda a $89.010, aguardando execução
• Taxas: exchanges geralmente oferecem recompensas ou taxas menores para Makers

Taker: consome liquidez, executa ordens de mercado

• Exemplo: quer comprar BTC imediatamente, aceita uma ordem de venda a $89.010
• Taxas: Takers pagam taxas mais altas

Um mercado saudável precisa de equilíbrio entre ambos:

• Market makers fornecem ordens continuamente, permitindo que qualquer pessoa negocie a qualquer momento
• Takers consomem essas ordens, gerando oportunidades de lucro e incentivando os market makers a continuarem operando

GSR investiu mais de 100 projetos e protocolos de criptomoedas na última década, reconhecendo a importância da liquidez fornecida pelos market makers para a saúde do ecossistema.

Como será o ecossistema de market making em 2025?

Wintermute: gigante global de liquidez

Até fevereiro de 2025, a Wintermute gerencia mais de 2,37 bilhões de dólares em ativos, cobrindo mais de 300 ativos na blockchain e mais de 30 ecossistemas de cadeias públicas. O volume total de negociações chega a quase 6 trilhões de dólares (dados de novembro de 2024).

Vantagens: integração cross-chain e entre várias exchanges; sistemas de algoritmos estáveis e maduros Desvantagens: foco limitado em tokens menores e projetos em estágio inicial

GSR: foco profundo no mercado institucional

Com mais de 10 anos de experiência, tornou-se a principal escolha de market maker para investidores institucionais. Além de fazer market making, oferece OTC, derivativos, investimentos delegados e outros serviços de valor agregado. Atualmente, colabora com mais de 60 exchanges.

Vantagens: cadeia de serviços completa; forte respaldo institucional Desvantagens: altas barreiras de entrada para projetos menores; custos relativamente elevados

Amber Group: novo paradigma com IA

Gerencia 1,5 bilhão de dólares em capital de negociação, atendendo mais de 2000 clientes institucionais. A Amber destaca-se por usar IA e verificações de conformidade regulatória, criando soluções customizadas para diferentes ambientes legais.

Vantagens: precificação inteligente baseada em dados; foco em gestão de risco e conformidade Desvantagens: requisitos de entrada rigorosos; pode não ser ideal para projetos iniciais

Keyrock: eficiência em escala média

Fundada em 2017, cobre 85 exchanges e mais de 1.300 pares de negociação. Com mais de 550.000 transações diárias, demonstra destaque em otimização de liquidez e controle de custos.

Vantagens: operação enxuta e eficiente; soluções personalizadas Desvantagens: menor reconhecimento comparado aos maiores players; capital menor

DWF Labs: modelo híbrido de investimento e market making

Além de fazer market making, investe ativamente em projetos. Apoia mais de 700 projetos, incluindo 20% do Top 100 do CoinMarketCap e 35% do Top 1000. Isso mostra que a DWF Labs atua como market maker e apoiador de projetos em fase inicial.

Vantagens: forte vínculo com projetos; capacidade de fornecer capital Desvantagens: trabalha apenas com projetos e exchanges Tier 1; processos de auditoria rigorosos

Por que os market makers são essenciais para as exchanges?

Liquidez abundante = melhor experiência de negociação

O efeito mais direto é que “há alguém do outro lado”. Sem market makers, se você quiser comprar 10 BTC de uma vez, o preço pode disparar. Com market makers, a ordem é rapidamente absorvida, minimizando o impacto no preço.

Queda na volatilidade, mais confiança dos iniciantes

O mercado de criptomoedas já é conhecido por sua alta volatilidade. Market makers atuam como estabilizadores, ajustando continuamente as ordens. Em mercados em baixa, aumentam as ordens de compra; em alta, aumentam as ordens de venda. Assim, as oscilações de preço ficam mais suaves, incentivando mais participantes, incluindo iniciantes.

Spread menor, custos de negociação mais baixos

Comparação:

• Exchanges sem market makers: spreads de BTC podem chegar a 200-500 dólares
• Exchanges líderes com market makers: spreads geralmente entre 1-5 dólares

Spreads menores reduzem custos de negociação, beneficiando tanto traders frequentes quanto investidores ocasionais.

Novos tokens ganham “primeiros compradores”

Quando um projeto lança um novo token, o maior medo é a falta de liquidez — poucos negociando, investidores presos. Com a parceria de market makers, o projeto consegue rapidamente contrapartidas suficientes, permitindo negociações normais e evitando slippage extremo. Muitos projetos de Tier 1 tiveram sucesso graças ao suporte de market makers.

Os três maiores riscos para os market makers

1. Perdas enormes em mercados de extrema volatilidade

Durante quedas de mercado em 2024, muitos market makers sofreram perdas inesperadas. Se, por exemplo, tinham posições em BTC a 69.000 dólares e o preço despenca para 50.000, as perdas podem chegar a milhões ou bilhões de dólares. O problema é que sistemas automatizados, embora rápidos, podem falhar em momentos de liquidez escassa.

2. Falha na gestão de risco

Market makers precisam fazer hedge em múltiplas exchanges simultaneamente. Se uma exchange ficar offline, ou se houver falha na API, ou atrasos na rede, o risco se expõe. Em 2023, Wintermute foi vítima de ataque hacker, perdendo dezenas de milhões de dólares — um alerta sobre a importância da segurança do sistema.

3. Mudanças regulatórias abruptas

As regulamentações para market makers ainda estão em desenvolvimento. Algumas jurisdições já consideram certas ações de market making como “manipulação de mercado”. Custos de conformidade representam uma pressão enorme para operações globais — cada novo mercado exige reavaliação das regras locais.

O futuro do market making: mais inteligente ou mais concentrado?

Com maior transparência de dados on-chain e avanços em IA, a competição entre market makers ficará mais acirrada. Market makers menores podem ser expulsos do mercado, enquanto grandes instituições usarão capital e tecnologia para monopolizar a liquidez.

Por outro lado, o crescimento dos AMMs (Automated Market Makers) descentralizados, como Uniswap e Curve, oferece uma alternativa. Com código substituindo market makers humanos, qualquer pessoa pode participar via liquidity mining. Isso pode dividir o mercado, mas a demanda por market makers centralizados em exchanges tradicionais permanece forte.

No longo prazo, o market making em crypto será uma indústria mais especializada, com maior capitalização e gestão de risco mais rigorosa. Grandes players que integrarem cross-chain, múltiplas exchanges e derivativos terão vantagem competitiva. Market makers menores precisarão focar em nichos específicos — como uma cadeia ou um tipo de derivativo.

Resumo: market makers não são o câncer do mercado, mas seu sangue vital

Muitos investidores de varejo tendem a demonizar os market makers, achando que eles “roubam” os pequenos investidores. Mas a verdade é que, sem eles, o mercado de criptomoedas não funcionaria normalmente. As negociações ficariam difíceis, os custos aumentariam e a liquidez secaria.

Market makers, ao lucrar com spreads aparentemente pequenos, na verdade arriscam seu capital para facilitar o mercado. Sua presença torna as negociações mais transparentes, eficientes e democráticas.

Para o trader comum, entender a lógica dos market makers traz duas vantagens: primeiro, compreender por que alguns tokens têm liquidez melhor que outros; segundo, entender a microestrutura do mercado para fazer ordens mais inteligentes (como usar ordens limitadas para reduzir slippage).

À medida que o mercado se torna mais complexo e os participantes mais numerosos, o papel dos market makers será ainda mais crucial. Eles não apenas lucram, mas ajudam a moldar o futuro do ecossistema de negociações em criptomoedas.