
O Afrouxamento Quantitativo (Quantitative Easing, QE) é uma ferramenta não convencional de política monetária utilizada pelos bancos centrais, que consiste sobretudo na aquisição massiva de ativos financeiros, como obrigações do Estado, para expandir a massa monetária e injetar liquidez no sistema financeiro. Quando os instrumentos tradicionais de política monetária, como a alteração das taxas de juro de referência, revelam eficácia limitada, os bancos centrais recorrem ao QE para estimular o crescimento económico, estabilizar os mercados financeiros e evitar fenómenos de deflação. Esta política foi amplamente implementada pelos principais bancos centrais após a crise financeira global de 2008 e, desde então, provocou efeitos profundos nos mercados de criptomoedas.
A principal característica do QE é a expansão do balanço dos bancos centrais através da criação de nova moeda eletrónica. Ao adquirirem obrigações do Estado e outros ativos financeiros, os bancos centrais fazem com que a nova liquidez chegue às instituições financeiras, que, teoricamente, a canalizam para a economia real, fomentando o consumo e o investimento. Nos mercados de criptoativos, o ambiente de baixas taxas de juro e de liquidez abundante promovido pelo QE leva os investidores a procurar ativos de maior rendimento; as criptomoedas tornam-se assim alvos atrativos para fluxos de capital, graças ao seu perfil de risco elevado e elevado potencial de retorno.
O impacto do QE nos mercados é notório. Por um lado, contribui para baixar as taxas de juro de longo prazo, reduzindo assim os custos de financiamento e incentivando a atividade económica. Por outro, o aumento da oferta monetária valoriza os ativos, incluindo ações, obrigações, imóveis e, mais recentemente, o Bitcoin e outros criptoativos. Durante a pandemia de COVID-19 em 2020, os extensos programas de QE implementados pela Reserva Federal e outros bancos centrais foram considerados determinantes para o acentuado aumento do valor do Bitcoin e de outras criptomoedas. Perante receios de desvalorização das moedas fiduciárias e de riscos inflacionistas, muitos investidores transferiram fundos para ativos como o Bitcoin, visto como “ouro digital”.
No entanto, o QE comporta múltiplos riscos e desafios. O mais direto é o risco de inflação; se o significativo aumento da massa monetária não resultar num crescimento económico real, pode dar origem a bolhas nos mercados de ativos. Do ponto de vista dos mercados de criptomoedas, quando os bancos centrais cessam o QE e iniciam políticas contracionistas, a consequente redução de liquidez tem um forte impacto sobre os ativos de maior risco. Após o início do ciclo de subida de taxas de juro e o fim do QE por parte da Reserva Federal e outros bancos centrais em 2022, os mercados de criptomoedas registaram quedas expressivas. Acresce que o QE pode agravar desigualdades de riqueza, uma vez que a subida dos preços dos ativos beneficia sobretudo os seus proprietários. Por fim, a manutenção prolongada do QE pode distorcer os sinais de preços de mercado, comprometendo a eficiente alocação de capital.
O QE tornou-se um pilar dos atuais sistemas de política monetária, exercendo uma influência profunda tanto nos mercados financeiros tradicionais como nos mercados de criptoativos, seja pela sua implementação, seja pelo seu desmantelamento. Para os investidores em criptomoedas, compreender as orientações da política monetária dos principais bancos centrais — especialmente o grau e o ritmo de implementação do QE — é crucial para gerir ciclos de mercado e tomar decisões de investimento fundamentadas. Paralelamente, o QE tornou-se um argumento-chave para os defensores do Bitcoin e de outros criptoativos na demonstração da insustentabilidade dos sistemas monetários fiduciários, reforçando o interesse pela procura de alternativas monetárias descentralizadas.
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