Carteiras multi-assinatura: como elas protegem os seus ativos em criptomoedas

Por que os utilizadores de criptomoedas precisam de segurança adicional?

Em dezembro de 2025, o número de endereços BTC ativos atingiu 55.106.626, de acordo com a plataforma de análise Glassnode. Este número indica um crescimento exponencial do ecossistema cripto e, ao mesmo tempo, um aumento no número de potenciais alvos para criminosos. Na economia digital, onde os dados estão fortemente interligados com o valor material, a proteção da informação deixou de ser um luxo e tornou-se uma necessidade.

As criptomoedas, sendo equivalentes digitais de dinheiro, atraem a atenção de hackers e desenvolvedores de esquemas fraudulentos. Além disso, o erro humano — como esquecer passwords, armazenar incorretamente a seed phrase ou transferir acessos por engano — muitas vezes é a principal causa de perda de fundos. Por isso, os atores institucionais e investidores experientes recorrem cada vez mais a mecanismos avançados de proteção.

Conhecimentos básicos: o que é uma carteira de criptomoedas

Antes de mergulhar nas particularidades da tecnologia multisig, é importante entender os conceitos básicos. Uma carteira de criptomoedas — é uma ferramenta (hardware ou software) que permite aos utilizadores gerir, receber e realizar operações com ativos digitais. As carteiras diferenciam-se pelo tipo de conexão à rede (quente ou frio), pelo grau de centralização e pelo número de chaves privadas necessárias para autorização.

As carteiras tradicionais funcionam com um esquema simples: uma chave privada — um proprietário — controlo total. É conveniente, mas pode tornar-se uma vulnerabilidade.

Carteira multisig: revolução na gestão de criptomoedas

Uma carteira de múltiplos assinamentos (multisig) é um tipo de armazenamento de criptomoedas que funciona com o princípio da autorização coletiva. Imagine um cofre com cinco fechaduras, onde cada um dos cinco participantes possui uma chave única, mas para abrir o cofre são necessárias pelo menos três. É assim que funciona o multisig ao nível do blockchain.

Ao contrário das carteiras tradicionais, as soluções multisig exigem duas, três ou mais assinaturas para aprovar qualquer operação. As configurações mais populares:

• 2-de-2: ambos os participantes devem concordar
• 2-de-3: dois de três participantes
• 3-de-5: três de cinco participantes

Esta arquitetura resolve duas questões críticas: reduz o risco de roubo (mesmo que um hacker obtenha uma chave, não poderá transferir fundos) e protege contra erro humano (a perda de uma chave não leva à perda de todos os fundos).

Como funciona realmente a autorização multiassinada

O mecanismo multisig é transparente e lógico. Quando um dos participantes inicia uma operação, ela entra no estado de «em análise». O sistema aguarda o número necessário de aprovações dos outros participantes. Cada participante assina a transação de forma independente com a sua chave privada. Um ponto importante: não há hierarquia entre os signatários — qualquer um pode ser o primeiro ou o último na cadeia de autorização.

Exemplo prático: uma empresa onde a aprovação de uma transferência de fundos requer assinaturas de três diretores de cinco possíveis (3-de-5). A diretora Olívia inicia a operação. Os diretores Pedro e Maria aprovam-na em poucos minutos. Os diretores Ivo e Verónica não respondem, mas isso não é crítico — são necessárias três assinaturas. Os fundos são enviados.

Em contrapartida, carteiras com uma única assinatura permitem a realização instantânea da operação após a inserção de uma senha. É conveniente, mas arriscado.

Comparação: carteiras de assinatura única vs multisig

A maioria dos utilizadores comuns usa carteiras de assinatura única, pois são mais simples. No entanto, a história mostra que isso pode levar a catástrofes: uma empresa perdeu 137 milhões de dólares quando o CEO, o único proprietário da chave privada, faleceu inesperadamente. Com uma solução multisig, tal tragédia teria sido evitada.

Vantagens principais da segurança com múltiplas assinaturas

Proteção reforçada contra roubo

Quando um hacker consegue acesso a uma chave privada numa carteira multisig 2-de-3, encontra um «beco sem saída». Para transferir fundos, são necessárias duas assinaturas — ele tem apenas uma. Assim, uma chave comprometida é automaticamente neutralizada.

Mecanismo de autenticação de dois fatores

O multisig funciona como uma verificação de dois fatores incorporada. Mesmo que uma chave seja roubada, o sistema exige uma confirmação adicional do outro proprietário. Isso torna muito mais difícil para o criminoso atuar.

Gestão de fundos de grupo

Empresas, cooperativas, organizações de caridade podem guardar fundos numa carteira onde cada participante tem direito de voto. A carteira funciona como um sistema digital de votação — as decisões são tomadas coletivamente, um gestor não pode executar uma operação por conta própria.

Uso em acordos escrow

O multisig permite transações seguras entre partes desconhecidas. Uma terceira parte não interessada recebe uma chave na configuração 2-de-3. Se surgir uma disputa sobre a qualidade do produto ou serviço, essa terceira parte tem direito de voto na divisão dos fundos.

Desafios e desvantagens das soluções multisig

Atraso nas operações

A segurança requer tempo. Se um participante estiver indisponível ou responder lentamente às solicitações, a operação ficará pendente. Isso é aceitável para transferências estratégicas de grandes volumes, mas impraticável para microtransações diárias.

Complexidade técnica

Configurar uma carteira multisig não é tão simples quanto baixar uma carteira comum. É preciso entender conceitos de chaves privadas, seed phrase, algoritmos de assinatura. Para iniciantes, isso pode ser uma barreira.

Ausência de seguro e regulação jurídica

O espaço cripto permanece na zona cinzenta regulatória. Se os fundos numa carteira multisig forem comprometidos ou perdidos, a lei e o seguro não ajudarão. O utilizador assume toda a responsabilidade.

Novas formas de fraude

Os golpistas adaptam-se. Um esquema popular: o criminoso finge ser vendedor, envia uma chave privada ao alvo e apresenta-a como uma carteira 2-de-2, embora na realidade seja uma carteira 1-de-2. O comprador pensa que ambas as partes devem assinar, mas na verdade o vendedor tem controlo total e foge com o dinheiro.

Quando usar carteiras multisig

As carteiras multisig são mais adequadas para:

• Organizações e empresas — onde a tomada de decisão coletiva é norma
• Grandes volumes de fundos — quando o risco de roubo justifica o atraso
• Património familiar — onde a distribuição de controlo entre membros evita conflitos
• Armazenamento frio — poupanças de longo prazo, onde a velocidade não é crítica

Para operações atuais e valores pequenos, carteiras tradicionais continuam mais convenientes.

Conclusão: segurança através da descentralização

As carteiras multisig não são uma panaceia, mas uma ferramenta específica para necessidades concretas. Elas representam o princípio «não coloque todos os ovos na mesma cesta» no contexto da gestão de criptomoedas. Se a sua preocupação é a segurança de grandes volumes de ativos digitais, se gere património coletivo ou valoriza o controlo coletivo, uma carteira multisig pode ser a solução ideal.

No entanto, requer tempo de aprendizagem. A tecnologia é totalmente dominável — o mais importante é dedicar-lhe atenção e cautela.